domingo, 14 de abril de 2013

ANÁLISE DOS ELEMENTOS DE COESÃO EM EDITORIAL



RESUMO: Na década de 60, os linguistas verificaram que a linguística na frase não estava sendo satisfatória para resolver certos fenômenos sintáticos-semanticos existentes entre enunciados e sequencias de enunciados. Surge assim, os primeiros estudos sobre a organização textual definidos como coerência. Dentro dos estudos linguísticos podemos elencar a gramática sistêmico-funcional de Halliday e Mathiessen (2004) que apresenta os recursos de coesão - conjunção, referência, elipse e substituição e coesão lexical – elementos essenciais para a formação do sentido do texto. Levando em conta essa gramática, o artigo a seguir analisa o gênero textual editorial “ Desmandos no Senado”, publicado no Jornal Zero Hora do dia 12 de junho de 2009.  No texto analisado verificamos a grande ocorrência de conjunções, e houve a pouca ocorrência de referência, coesão lexical, elipses e substituições.
PALAVRAS-CHAVE: Linguística Textual.Recursos de Coesão.Editorial.


1 INTRODUÇÃO

Ler é um processo contínuo que se confunde com o próprio fato de se estar no mundo interagindo com ele. Assim, ler não é um ato mecânico, e sim um processo ativo. A mente filtra as informações recebidas, interpreta essas informações e seleciona aquelas que são consideradas relevantes. O que se fixa em nossa mente é o significado geral do texto.
       Na década de 60 surgiu na Europa a ciência que estuda o texto e suas relações, a chamada Linguística Textual. Nos anos 80, iniciaram-se no Brasil, os primeiros estudos dessa ciência que propôs analisar o texto como sequências linguísticas coerentes entre si. O principal objetivo da Linguística textual é estudar os processos e mecanismos de construção textual que dão significado ao texto.
         É necessário refletir sobre a construção do texto, as estratégias linguisticas formais, a fim de que haja comunicação. A linguística do texto deve operar como um termo intermediário entre a língua e a fala, deve dar relevância primordial às questões de ordem pragmática relativas à enunciação.
       A  Linguística, dá embasamento para  vários estudos na área da produção textual, e é a partir deste ponto que nortearemos o trabalho a seguir, baseado no editorial : “ Desmandos no Senado”, publicado no Jornal Zero Hora do dia 12 de junho de 2009 . Primeiramente, serão expostas algumas considerações sobre a Linguística Textual, em seguida, mais especificamente, sobre coesão textual e os elementos que a abrange.


2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL     
         Linguística Textual surge dos estudos que se vêm desenvolvendo na área da lingüística. A partir da década de 60, os lingüistas constataram que a frase não dava conta de explicar a produção de sentidos e que seu sentido só poderia ser encontrado a partir do texto com referência a um contexto situacional. Desta mudança de investigação dos lingüistas, FÁVERO & KOCH (1988: 11) enunciam:
Sua hipótese de trabalho consiste em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto particular de investigação, não mais a palavra ou frase, mas sim o texto, por serem os textos a forma específica de manifestações da linguagem.
            A Linguística Textual toma, então, como objeto particular de investigação o texto considerado como unidade básica de manifestação da linguagem, pois o homem se comunica através de textos nos quais existem diversos fenômenos que só podem ser explicados em seu próprio interior.
            A coerência e coesão textuais são conceitos nucleares da lingüística textual que dizem respeito a dois fatores de garantia e preservação da textualidade.        Coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de um texto, a coesão é a associação consistente desses elementos. A distinção entre estes dois fatores de textualidade ainda está em discussão quer na teoria do texto, quer na linguística.
            Halliday e Hasan (1976) são autores que apenas se referem a aspectos, sem qualquer distinção. Por outro lado, autores como Beaugrande e Dressler apresentam coerência e coesão como níveis distintos de análise.
            A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais uma sequência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito aos conceitos e as relações semânticas que permitem a união dos elementos textuais.
            Cabe ainda lembrar que, conforme os filósofos analíticos de Oxford toda a manifestação linguística constitui um ato de linguagem isto é, realiza uma ação. Assim os enunciados são dotados de conteúdo proporcional e força ilocucionária.
Marcuschi (1986, p. 12, 13) define Lingüística Textual como “o estudo das operações lingüísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos e orais. Trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universal de ações humanas. Por um lado, deve preservar a organização linear que é o tratamento estritamente lingüístico abordado no aspecto da coesão e, por outro lado, de intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas.”
            Dos aspectos responsáveis pela textualidade, nesse trabalho, será feito um estudo mais aprofundado da Coesão Textual, uma vez que, será feita a análise dos elementos coesivos no gênero editorial, buscando ressaltar a importância desses elementos para a compreensão do texto, bem como do gênero enquanto circulação social.


2.2 COESÃO

             O estudo da coesão textual tem sido predominantemente desenvolvido dentro do ramo da linguística a que se denomina linguística do texto. Halliday e Hasan (1976) definem coesão como sendo um conceito semântico, o qual se refere às relações de significados que existem dentro do texto. Afirmam que a coesão define se o texto é ou não um texto. Para os autores, a coesão ocorre quando a interpretação de um elemento depende da interpretação de outro. Acrescentam que a coesão é parte do sistema de uma língua e é expressa parcialmente, através da gramática e, parcialmente, através do léxico. Eles interpretam, na prática, coesão como vários recursos semânticos para ligar uma sentença com o que foi expresso antes. Entendem que a coesão textual depende de cinco categorias de procedimentos, a referência (pessoal, demonstrativa, comparativa), substituição (nominal, verbal, frasal), elipse (nominal, verbal, frasal), conjunção (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa) e coesão lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, uso de nomes genéricos, colocação), sendo que cada um desses mecanismos tem características próprias.
            Beaugrande & Dressler (1981), colocam que a coesão concerne ao modo como os componentes da superfície textual, isto é, as palavras e frases que compõem um texto, encontram-se conectadas entre si numa seqüência linear, por meio de dependências de ordem gramatical.
Os autores acima afirmam que a coesão é uma condição necessária, embora não suficiente para a criação do texto. Para Marcuschi (1986) não se trata de condição necessária, nem suficiente: existem textos destituídos de recursos coesivos, mas em que a continuidade se dá ao nível de sentido e não ao nível das relações entre os constituintes lingüísticos. Por outro lado, há textos em que ocorre um seqüenciamento coesivo de fatos isolados que permanecem isolados, e com isso não têm condições de formar uma textura. Ele define os fatores de coesão como “aqueles que dão conta da estruturação da seqüência superficial do texto”, estabelecer, entre os elementos afirmando que se trata de mecanismos formais de uma língua que permitem lingüísticos do texto, relações de sentido.
Para Halliday e Hasan (1976) a referência engloba todos os termos que não podem ser interpretados semanticamente sozinhos, mas que fazem referência a um outro termo, para se dar a interpretação. A referência pode ser situacional (exofórica), quando é dirigida a algum elemento da situação comunicativa, extratextual, ou textual (endofórica), quando o referente esta contido no texto, neste caso a referência pode ser anafórica, se o referente vier antes do item coesivo, ou catafórico quando o referente vier após o elemento coesivo. Há três tipos de referência: pessoal, demonstrativa e comparativa. A referência pessoal é feita a partir de pronomes pessoais. A referência demonstrativa realiza-se por meio de pronomes demonstrativos e advérbios indicativos de lugar. E, por fim, a referência comparativa é efetuada por via indireta e por meio de identidade e similaridade.
            Segundo os autores (1976, p.145 apud Dimas e Scavazza 2005), a substituição é a pressuposição no nível de palavras e estruturas. Ela consiste na colocação de um item em lugar de outro (s) elemento (s) do texto, ou até mesmo de uma oração inteira.       Eles (1976, p.90), classificam a substituição em três tipos distintos, que são: nominal, verbal e frasal. O primeiro tipo, nominal, só pode substituir um item nuclear de um outro grupo nominal, mas não necessitando esse item possuir a mesma função na frase. Já na substituição verbal, um item (verbo) funciona como núcleo do grupo verbal que retoma o que foi exposto antes e que sempre aparecera no final da oração. Por fim, na substituição frasal, um elemento do texto passa a ser entendido como uma frase.
            Em relação a elipse, os autores (1976) colocam que ela pode ser interpretada como uma forma especial de substituição, na qual os itens não são substituídos por nenhum outro item lexical, sintagma, oração ou enunciado, facilmente recuperável pelo texto.
            A conjunção diferencia-se dos demais mecanismos coesivos, pois não estabelece uma relação anafórica entre as partes do todo. Halliday e Hasan (1976, p.226), apresentam como principais tipos de conjunção a aditiva, a adversativa, a causal, a temporal e a continuativa.
            A coesão lexical, para os autores (1976), é obtida por dois mecanismos: a reiteração e a colocação. O primeiro mecanismo faz-se por repetição do mesmo item lexical ou por meio de sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos cuja função coesiva está no limite entre as coesões lexical e gramatical. Já a colocação é a relação dos elementos lexicais que ocorrem juntos regularmente.
Fávero (1995) afirma que a proposta de Halliday e Hasan suscita algumas indagações, como: a separação entre substituição, elipse e referência, por que separá-las? A referência exofórica deve ser considerada um mecanismo de coesão? Por que considerar a coesão lexical um tipo à parte, se ela tem função de estabelecer referência?
A partir dessas indagações, ela apresenta uma reclassificação, considerando termos que exercem a função coesiva na construção do texto. Ela propõe três tipos de coesão: referencial, recorrencial e seqüencial.
A coesão referencial diz respeito aos itens que têm como função estabelecer referência, isto é, não são interpretados semanticamente pelo seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação. Podem ser por substituição ou reiteração.
A coesão recorrencial se dá quando, apesar de haver retomada de estruturas, itens ou sentenças, o fluxo informacional caminha, progride; tem, então, por função levar adiante o discurso. Os casos de coesão recorrencial constituem-se em: recorrência de termos, paráfrases, paralelismos e recursos fonológicos segmentais e supra-segmentais.
elipses e substituições. Já na zona lexical, está a coesão lexical que pode Os mecanismos de coesão seqüencial têm por função, da mesma forma que os de recorrência, fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional, entretanto, diferem-se dos de recorrência, por não haver neles retomada de itens, sentenças ou estruturas. Podem ocorrer por seqüenciação temporal e por conexão.
            Nesse trabalho serão utilizados os recursos lexicogramaticais de coesão propostos por Halliday e Matthienssen (2004) divididos em: zona gramatical e zona lexical. Na zona gramatical estão as referências, as conjunções e as ser por repetição, sinonímia, hiponímia, meronímia e colocação.
As referências podem ser pessoais – pronomes pessoais, oblíquos e possessivos, demonstrativas – pronomes demonstrativos e advérbios dêiticos e comparativas – adjetivos e advérbios comparativos.
A elipse e substituição podem ser de oração, parte de oração, grupo verbal e grupo nominal.
As conjunções, relações lógico-semânticas usadas para ligar pares de orações em conexões, se dividem em três tipos de expansão: elaboração, extensão e intensificação. Na elaboração, os elementos são utilizados pra representar ou restabelecer, como também para sumarizar, com maior precisão o termo apresentado anteriormente. Na extensão, as informações são expandidas através de acréscimo ou variação de informação. Já na intensificação, a informação é enriquecida por outras informações de cunho espacial, temporal, causal, condicional, entre outras.
Esses três tipos de expansão das conjunções subdividem-se em vários outros. A elaboração pode ser por clarificação ou exposição. A expansão pode ser por adição e variação. A intensificação pode ser espaço-temporal, de modo, causal-condicional e de assunto.
Segundo Halliday e Matthienssen (2004), as conjunções são sistemas coesivos que se desenvolvem como um recurso complementar para criar e interpretar textos. O sistema de conjunção pode se verificar dentro da oração complexa, mas também além do domínio gramatical da oração.


3 METODOLOGIA

Segundo Halliday e Matthiessen (2004), a metafunção textual trata da organização do texto como mensagem, tem como função estudar a organização do fluxo de informação e as relações coesivas no texto.
Neste trabalho, analisaremos o editorial “Desmandos no Senado”, publicado no Jornal Zero Hora do dia 12 de junho de 2009 (anexo 1). A escolha do referido texto foi feita durante a leitura do jornal “on line“. A análise dos elementos de coesão presentes no texto - referência, substituição, elipse, coesão lexical e conjunção - foi feita seguindo a visão de Halliday e Mathessen (2004), conforme nos orientou a professora da disciplina.


4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para entendermos melhor o texto, a linguística textual ou linguística do texto, possibilita-nos estudar as relações sintático-semanticas entre enunciados.
Segundo Halliday (2004), o texto é a forma lingüística de interação social, sendo este composto por uma progressão sucessiva ou simultânea de significados, progressão gerada pelos mecanismos de coesão que são os elementos presentes na superfície textual e que se encontram interligados por meio de recursos linguísticos.
São estes elementos que procuramos identificar e analisar no editorial  “Desmandos no Senado”, publicado no Jornal Zero Hora do dia 12 de junho de 2009.  Verificamos a grande ocorrência de conjunções, e pequena ocorrência de referência, coesão lexical, elipses e substituições.

4.1 REFERÊNCIA
L7 – mais de (referencia comparativa)
L 11 – este (referência demonstrativa – exofórica)
L 13 – esses (referência demonstrativa – endofórica – anafórica)
L 17,19 e 21 – mais (referência comparativa)
L 21 – elas (referência pessoal – endofórica – anafórica)
L 24 – esses (referência demonstrativa – endofórica – catafórica)


4.2 COESÃO LEXICAL
L 1 – País (hiponímia)
L1 e 2– 600 funções comissionadas e cargos com gratificação (colocação em relação à senado)
L 2 – Senado (meronímia)
L3 – caixa-preta (colocação em relação à senado
L 4 – cargos (meronímia de emprego)
L 5 – órgão que deveria se pautar sempre pela transparência (colocação em relação a senado)
L 5 – técnicos do senado (colocação em relação a senado)
L5 – nomear parente, amigos, criar cargos e aumentar salários (colocação em relação a atos administrativos secretos)
L6 – 300 decisões que não foram publicadas (colocação em relação à caixa-preta)
L7 as medidas (colocação em relação às 300 decisões que não foram publicadas)
L 9 – senadores (meronímia de senado)
L 13 – novos dados (sinonímia de levantamentos feitos pelos técnicos do senado)
L 14 – a revelação (sinonímia de novos dados)
L 16 – legislativo (meronímia de senado)
L 19 – atos secretos de nomeações e exonerações (sinonímia de atos administrativos secretos)
L 20 – senado (repetição)
L21 – irregularidades (sinonímia de caixa preta e tudo que foi dito antes sobre as fraudes do senado)
L24 – senado (repetição)
L 24 fatos (refere-se a tudo que foi dito antes, sinonímia)

4.3 ELIPSE E SUBSTITUIÇÃO
L2 – dos quais” retoma (substitui) cargos com gratificação
L 4 -( elipse do verbo nomear )
L 6 – Muitas Ø adotadas ( elipse  de decisões)
L 17- ( elipse de providências )
L19 – (elipse e não a distorção mais escandalosa)
L 21- ( elipse das irregularidades )
L22 – (elipse de neto do senador r presidente José Sarney nomeado num jogo...)
L24 – (elipse de oração “o senado tem obrigação de adotar medidas...”)
L 26 – que Ø se repitam ( elipse de esses fatos)

 4.4 CONJUNÇÃO
L 1 – e (extensão por  adição positiva)
L2 – agora (intensificação espaço-temporal específica)
L 4 – para (Intensificação causal-condicional proposital)
L4 – e (extensão por adição positiva)
L 7 e 8 -  e ( extensão por adição positiva)
L10 – para (intensificação espaço-temporal específica)
L 12 – também (extensão por adição positiva)
L 13 - e ( extensão por adição positiva)
L 14 - e ( extensão por adição positiva)
L 15 – para (intensificação causal-condicional proposital)
L 16 – por que (intensificação por causal-condicional geral)
L 16, 18,19 e 20 - e (extensão por adição positiva)
L 15- ou ( extensão por variação alternativa)
L 24 -  e ( extensão por adição positiva)
L 25- -  e ( extensão por adição positiva)
L 25 – acima de tudo (intensificação espaço-temporal precedente)


5 CONSIDERAÇÔES FINAIS 

Tendo como base análise do texto, orientações da professora da disciplina, leituras complementares e pesquisas, observamos que o texto analisado: “Desmandos no Senado”, publicado no Jornal Zero Hora do dia 12 de junho de 2009 é um texto coeso e com sentido argumentativo, de acordo com o enfoque de Halliday e Mathessen. O mecanismo que mais foi usado foi conjunção e houve a pouca ocorrência de referência, coesão lexical, elipses e substituições, penso que essa é uma característica deste gênero textual que acabamos de analisar.


6. REFERÊNCIAS

BEAUGRANDE, Robert & DRESSLER, Wolfgang. Introduction to Textliguistics. Apud. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão Textual. 18ed. São Paulo: Contexto, 2003
CABRAL, Sara Scotta. Subsídio para aulas de Linguística textual. URI Santiago, 2009.
COLAÇO, Silvânia Faccin. Subsídios para aulas de Linguística textual. URI Santiago, 2005.
 HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994.
HALLIDAY, M. A. K e HASAN R. Cohesion in English. Londres,1976.
KOCH, Ingedore G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997 – (Caminhos da Linguística).
KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1994.
MARCUSCHI, Luis Antonio. Lingüística do Texto:o que é e como se faz. Recife: UFPE/Mestrado em Letras e Lingüística, 1986.
TEXTO-FONTE: Zero Hora,Jornal (12/06/09)

ANEXO  1


12 de junho de 2009

EDITORIAL

Desmandos no Senado


1.Depois de surpreender o país com a descoberta de que tinha 600 funções comissionadas e
2.cargos com gratificação, dos quais, 181 diretores, o Senado surpreende agora com a revelação
3.de uma inadmissível caixa-preta num órgão que deveria se pautar sempre pela transparência:
4.atos administrativos secretos foram usados para nomear parentes, amigos, criar cargos e 5.aumentar salários. Levantamento feito por técnicos do Senado nos últimos 45 dias, a pedido da
6.1ª Secretaria, detectou cerca de 300 decisões que não foram publicadas, muitas adotadas há
7.mais de 10 anos. As medidas entraram em vigor, gerando gastos desnecessários e suspeitas da 8.existência de funcionários-fantasmas. A mistura de ineficiência e desmando político-9.administrativo consentida pelos próprios senadores pode ser mensurada pelo aumento dos
10.gastos. De R$ 2,1 bilhões em 2007, o montante subiu para R$ 2,8 bilhões no ano passado. Para 11.este ano, a folha salarial é de R$ 3 bilhões 42,8% de aumento em dois anos. O percentual é 12.explicável também pelo fato de muitos diretores ganharem até R$ 20 mil mensais.

13.Esses novos dados ampliam algo que a sociedade já considerava abusivo e inadmissível. A
14. revelação de que em administrações sucessivas ocorreram descontroles gerenciais e as
15.funções de comando foram utilizadas para favorecer parentes, amigos ou correligionários
16.ajuda a explicar por que a imagem do Legislativo está tão desgastada e por que são exigidas 17.providências mais efetivas do que as tomadas até agora. O excesso de diretorias, revelação
18.que à época foi considerada das mais escandalosas, era apenas uma das distorções – e não a
19.mais escandalosa. A existência de atos secretos de nomeações e exonerações indica que as 20.próprias administrações do Senado tinham consciência de que havia irregularidades e, pior,
21.que elas precisavam ser mantidas fora do conhecimento da população. O caso mais chocante é
22.o da contratação do neto do senador e ex-presidente José Sarney, nomeado num jogo de
23.toma lá dá cá familiar e político.

24.O Senado tem obrigação de dar explicações convincentes sobre esses fatos e de
25.adotar medidas capazes de investigar e punir os faltosos do passado e, acima de tudo, de impedir
26.que se repitam.


Nenhum comentário:

Postar um comentário